Quando o coração, por alguma razão, apresenta alteração de seu ritmo normal, chamado de ritmo sinusal, ocorre o fenômeno conhecido como arritmia.

As arritmias podem ocorrer na forma de bradicardias, quando a frequência cardíaca (FC) é reduzida (abaixo de 60 bpm); de taquicardias, quando a FC é elevada (acima de 100 bpm) ou ainda por irregularidade do ritmo.
A depender do local de origem da arritmia no coração, ela pode ser classificada como:
1) Arritmia supraventricular: aquela que tem origem nos átrios;
2) Arritmia ventricular: originada nos ventrículos.
Existem algumas dúvidas frequentes quanto a este assunto. A seguir vamos falar sobre algumas delas:
- 1. Alimentos como café, chocolate e refrigerantes podem causar arritmias?
De fato, substâncias estimulantes podem acelerar o coração se forem ingeridas em grande quantidade, causando uma taquicardia. Nestes casos, é mais comum o aparecimento de arritmia em indivíduos que já tenham alguma predisposição.
É importante destacar, ainda, que o álcool em excesso e principalmente se associado a energéticos, pode funcionar como um agente desencadeante, causando extrassístoles ou até mesmo desencadeando um quadro de fibrilação atrial.
Pequenas doses de estimulantes, como a cafeína não costumam causar arritmias, porém, pessoas que notam aumento da frequência cardíaca após sua ingestão, aconselha-se reduzir o consumo, a fim de evitar sintomas.
- 2. A prática de atividade física pode ocasionar arritmias? Um paciente com arritmia pode realizar exercícios?
A atividade física pode desencadear arritmias sim, mas isso raramente acontece em indivíduos sem doença cardíaca estrutural ou alguma doença genética que favoreça o aparecimento de arritmias. O exercício físico extenuante (treinamento para atletas) pode induzir alterações no coração que podem contribuir com aumento do risco de arritmias, por isso, recomenda-se que atletas tenham supervisão médica para liberação e prática de exercícios físicos.
Praticar atividade física é sempre recomendado para a população geral por reduzir o risco de eventos cardiovasculares. Entretanto, indivíduos que já tem diagnóstico prévio de alguma arritmia devem buscar orientações específicas com o seu médico, para definir se podem ou não fazer exercícios físicos e qual tipo de treinamento é o mais recomendado, já que algumas arritmias podem causar morte súbita.
- 3. Obesidade, anorexia, medicamentos para emagrecer e dietas especiais podem desencadear arritmias cardíacas?
A obesidade representa um fator de risco bem conhecido para doenças cardiovasculares e, em geral está associada à mau condicionamento físico, já fazendo com que a pessoa tenha uma FC basal mais elevada e, ao realizar quaisquer esforços, pode apresentar uma taquicardia sinusal, mas raramente outras arritmias.
Já a anorexia pode sim desencadear arritmias por alterações de eletrólitos, já que o paciente anoréxico tem ingesta reduzida e consequentemente pode ter níveis baixos de potássio ou cálcio, por exemplo, que são extremamente importantes para o bom funcionamento do coração.
Muitos medicamentos para emagrecer possuem em sua fórmula anfetaminas, hormônios tireoidianos, diuréticos e outros componentes que podem predispor ao aparecimento de arritmias. Por isso, pacientes com doenças cardíacas não devem fazer uso destes e, pessoas hígidas só devem utilizar com prescrição e acompanhamento médico. Dietas com restrições importantes, sem orientação de um nutricionista, também podem levar a episódios de arritmias por motivo semelhante ao da anorexia.
- 4. Medicamentos ou drogas ilícitas podem causar arritmias?
Broncodilatadores, descongestionantes nasais, medicações antidepressivas e até mesmo medicações antiarrítmicas podem sim causar arritmias. A taquicardia sinusal é a mais comum e normalmente o paciente sente palpitações. Porém, outras arritmias também podem ser secundárias ao uso de drogas lícitas ou ilícitas.
Dúvidas quanto ao uso de anticoncepcionais também são comuns. Algumas mulheres que já têm predisposição a alguma doença cardiovascular ou que tem uma cardiopatia congênita podem ter a FC aumentada com o uso de alguns tipos de anticoncepcional. A FC de repouso da mulher é maior que a do homem e há também diferentes variações da FC durante o ciclo menstrual, tendendo a menor frequência durante a fase folicular ou lútea do ciclo.
Em geral, a suspensão do medicamento em uso melhora os sintomas. Porém, em alguns casos pode ser necessário procurar atendimento médico e realização de medicação endovenosa ou até mesmo cardioversão elétrica, dependendo do tipo da arritmia.
Drogas ilícitas como cocaína, ecstasy e crack podem causar diversos tipos de arritmias, desde arritmias benignas até aquelas mais graves e que podem ser fatais.
- 5. Distúrbios do sono podem desencadear arritmias cardíacas?
Sim. A síndrome da apneia e hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS), que normalmente se manifesta com ronco enquanto dorme, sonolência diurna e irritação, é uma situação na qual a pessoa apresenta inúmeras paradas respiratórias de duração diferentes e está intimamente associada ao aparecimento de arritmias cardíacas.
- 6. A atividade sexual pode ocasionar arritmia?
É incomum, mas os casos de arritmias durante atividade sexual normalmente acontecem devido ao esforço físico maior em pessoas que já tem risco aumentado ou fizeram uso de alguma medicação que aumenta o risco de arritmia.
- 7. Ansiedade e síndrome do pânico têm associação com arritmias?
Pessoas ansiosas frequentemente sentem palpitações e é importante diferenciar se é uma crise de ansiedade ou de pânico, ou se é alguma arritmia que necessite de tratamento específico. E o contrário também é verdadeiro, é comum que durante um episódio de taquiarritmia o indivíduo fique ansioso por sentir palpitações e, consequentemente, a FC permaneça elevada, como um ciclo vicioso.
A palpitação causada por ansiedade é um diagnóstico de exclusão, ou seja, inicialmente é importante realizar uma investigação cardiológica para descartar outros possíveis fatores causais da arritmia.
- 8. Outras doenças não-cardíacas podem levar a arritmias?
Sim. Algumas doenças associam-se a alterações do ritmo e da frequência cardíaca, como: febre, infecção, desidratação, doenças da tireoide e anemia.
- 9. E, por fim, mas não menos importante… o tabagismo está associado à arritmias cardíacas?
Sim. A nicotina e outros componentes do cigarro podem levar ao aumento da frequência cardíaca e à sensação de palpitações. Vale lembrar também que o cigarro é um fator de risco para infarto e, pessoas que já tiveram infarto prévio e tem uma cicatriz no coração tem risco maior de apresentar arritmias graves.
REFERÊNCIA:
Arritmia cardíaca: mitos e verdades. SOBRAC, 2020. Disponível em: <https://www.sobrac.org/campanha/arritmias-cardiacas-mitos-e-verdades/>. Acesso em: 23 de ago de 2020.
Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz sobre Arritmias Cardíacas. Arq Bras Cardiol volume 79, (suplemento V), 2002.