
Sumário
Antes de mais nada, vamos entender o que é o colesterol!
O colesterol é uma molécula que é naturalmente produzida pelo fígado e que é extremamente necessária ao bom funcionamento do nosso organismo.
Para a formação da membrana das células utilizamos colesterol, sabia?
Ele também é um precursor de alguns hormônios, como vitamina D, testosterona e estrogênio. E ainda também tem papel importante na formação dos sais biliares.
Ou seja, sem colesterol, nós não existiríamos!
Então porque falam tão mal do colesterol, se ele é tão útil e necessário?
Isso acontece porque o colesterol não é uma molécula apenas, na verdade.
Ele se divide em diferentes frações, com funções e atividades diferentes no nosso organismo.
Temos o Colesterol total (CT), o Colesterol-HDL, o Colesterol-LDL, o VLDL, os triglicerídeos, quilomícrons e outras moléculas que participam no metabolismo do colesterol no fígado e no processo de acúmulo de gordura no sangue - bem como de retirada da gordura do sangue, por exemplo.
O que acontece é que há muitos anos já se estuda os efeitos das diferentes moléculas de colesterol na circulação sanguínea e sabemos que pessoas que tem níveis de colesterol LDL extremamente elevados (maiores do que 190mg/dL) tem um risco cardiovascular maior do que pessoas com níveis de LDL mais baixos - ou seja, um risco maior de ter um infarto ou um AVC.
Por outro lado, outros fatores entram na conta também para definirmos qual é o risco cardiovascular de um indivíduo. Quais são esses fatores? Os principais são a idade, se a pessoa tem diabetes ou não, se ela tem pressão alta e se a pressão está bem controlada com a medicação ou não, se ela fuma, se tem história familiar de doenças cardíacas e também se já tem placas de gordura identificadas em alguma artéria do corpo ou já teve algum evento cardiovascular (como infarto ou AVC) na vida.
E aí como se define quando o colesterol é um problema ou não para aquela pessoa?
Pois bem, aqui é que vem a confusão que muitas pessoas fazem por aí...algumas dizendo que o colesterol não deve ser levado em consideração e outras dizendo que qualquer colesterol um pouco aumentado já é motivo para tomar remédio.
O que acontece é que o colesterol deve ser avaliado de forma INDIVIDUAL de acordo com as particularidades de cada pessoa e, além disso, não devemos olhar apenas para o colesterol total, ou apenas para o colesterol LDL ou HDL. Eles devem ser avaliados em conjunto, e somados à eles devemos avaliar os outros fatores que aumentam o risco de ter um infarto - como citado acima.
Vou dar um exemplo...
Se você considerar uma mulher de 40 anos, que não fuma, não é hipertensa e nem diabética, nunca infartou e não tem placas de gordura nas artérias, mas que tem um colesterol total de 225 e um colesterol HDL de 38 (valores considerados alterados se você for checar as tabelas de valores de referência dos laboratórios), mesmo com um LDL de 140 - o risco cardiovascular dessa mulher, nesse momento da vida dela, É BAIXO! E então, mesmo com o VALOR DO COLESTEROL fora do que é CONSIDERADO NORMAL PARA A MÉDIA DA POPULAÇÃO, ela não precisa usar estatina.
Por outro lado, se a gente considerar uma mulher de 40 anos, que não fuma, mas é diabética e hipertensa, com os mesmos valores de colesterol, esta sim tem um risco cardiovascular maior e provavelmente irá ter benefício no uso das estatinas, não para reduzir o número do colesterol em si, mas para REDUZIR O RISCO DE TER UM INFARTO.
E ainda, usando um terceiro exemplo, se considerarmos um homem de 55 anos, tabagista e hipertenso, sem diabetes e com colesterol total 180 e HDL 55 (que são valores considerados NORMAIS pela tabelinha lá dos resultados do laboratório que vocês costumam olhar). Esse homem, MESMO COM COLESTEROL NORMAL para a média, tem um RISCO CARDIOVASCULAR ELEVADO - e também provavelmente se beneficiará do uso de estatinas para reduzir esse risco.
Além disso...
Ainda temos outros exames complementares que auxiliam na estratificação deste risco, como a ultrassonografia com Doppler das artérias carótidas, que nos ajuda a identificar se já existe placa de gordura nessas artérias ou também o Escore de Cálcio Coronariano (CAC) que é feito através de uma tomografia de coração e que ajuda a estimar o risco cardiovascular de cada indivíduo.
Então, para finalizar
O colesterol pode ser bom ou pode ser ruim, pode ser um fator adicional no risco cardiovascular como pode ser um fator protetor no risco cardiovascular. Tudo isso DEPENDE do indivíduo que está sendo avaliado e da avaliação das diferentes moléculas de colesterol que circulam no sangue.
Quando você finalmente COMPREENDER isto, você nunca mais terá dúvidas sobre porque alguns defendem e outros criticam o uso das estatinas e falam tanta besteira sobre colesterol por aí!