Sumário
Como funciona a cronoterapia e qual seu papel para tratar a pressão alta
A cronoterapia trata-se de um método baseado nos ritmos hormonais diários (ciclos circadianos) com objetivo de potencializar tratamentos de determinadas doenças ou minimizar efeitos colaterais de certas medicações.
Já existem relatos do seu uso para o tratamento de depressão sazonal, distúrbios do sono, asma, alguns tipos de câncer e, mais recentemente, foi publicado um artigo no European Heart Journal sobre o uso da cronoterapia no tratamento da pressão alta.
A finalidade é observar variações naturais de fatores como frequência cardíaca ou respiratória, broncodilatação e temperatura corporal em cada horário do dia e, com base nisto, definir horários estratégicos para tomar as suas medicações a fim de prevenir crises em momentos os quais o organismo encontra-se mais vulnerável.
Isso é possível devido aos mecanismos de ajustes fisiológicos que promovem, por exemplo, maior produção de adrenalina ao acordar, de insulina durante as refeições e de melatonina à noite.
E como se utiliza a cronoterapia no tratamento da pressão alta?
Nesse caso, inicialmente deve-se realizar um MAPA, que nada mais é do que a monitorização ambulatorial da pressão arterial (PA) e que, em geral, tem duração de 24h, onde pode-se identificar as variações pressóricas do indivíduo ao longo do dia.
Com base nisso, as medicações seriam prescritas nos melhores horários, de acordo com as variações pressóricas daquele paciente, promovendo cobertura específica para cada período. Esta é a principal vantagem da cronoterapia: personalizar o tratamento de cada paciente.
De acordo com as evidências existentes, realmente existe um horário melhor no dia para a tomar o remédio para controlar a pressão alta?
Em outubro de 2019, no European Heart Journal, foi publicado um estudo chamado Hygia Chronotherapy Trial, um ensaio clínico randomizado aberto e multicêntrico, feito na Espanha, que incluiu 19.084 pacientes e os acompanhou por seis anos.
Neste estudo, os participantes foram divididos em dois grupos, e cada grupo tomaria seus medicamentos em horários diferentes – ao acordar ou antes de dormir. Todos os pacientes realizavam a monitorização ambulatorial da pressão arterial por 48 horas, pelo menos uma vez por ano.
Os pesquisadores identificaram quem tomava os medicamentos à noite, antes de dormir, tinha quase metade do risco (45% de redução de risco relativo) de morrer ou de sofrer eventos cardiovasculares como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, manifestação de insuficiência cardíaca ou necessidade de revascularização coronariana, em comparação aos pacientes que tomaram os medicamentos ao acordar
Este é considerado o maior estudo que investigou a relação entre o horário de tomada dos medicamentos anti-hipertensivos e o risco de problemas cardiovasculares, até o momento.
A conclusão dos autores é que o melhor horário para administração de anti-hipertensivos é no turno da noite.
E, se a cronoterapia pode ser tão útil, por que não é utilizada amplamente?
A principal preocupação dos profissionais de saúde, neste aspecto, diz respeito a adesão dos pacientes ao tratamento. No caso específico do tratamento da hipertensão arterial sistêmica, sabe-se que a PA pode ficar elevada ao longo do dia também, sendo necessário tomar os medicamentos mais do que uma vez por dia, fator que conhecidamente prejudica a adesão ao tratamento.
Além disso, apesar do Hygia Chronotherapy Trial ser um estudo grande, ainda há poucos estudos nesta área.
Em resumo…
A cronoterapia parece ser uma estratégia eficiente no tratamento da HAS. Entretanto, para que haja sucesso no tratamento, é preciso acompanhamento médico regular e comprometimento do paciente.
REFERÊNCIAS:
MALACHIAS, MVB et al. Capítulo 13 – Hipertensão Arterial Resistente. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, [S.L.], v. 107, n. 3, p. 75-77, maio 2016. Sociedade Brasileira de Cardiologia. http://dx.doi.org/10.5935/abc.20160163
HERMIDA, Ramón C et al. Bedtime hypertension treatment improves cardiovascular risk reduction: the hygia chronotherapy trial. European Heart Journal, [S.L.], p. 1-12, 22 out. 2019. Oxford University Press (OUP).
